sábado, 9 de outubro de 2010

Aquele da pescagem

Eram 19:40 quando Alice e Pedro chegaram na rodoviária. Seu ônibus partiria às 20:00.
- Tchau amor - disse Alice, enquanto abraçava Pedro - vou sentir saudades.
- Tchau linda, vou morrer de saudades também! Manda um beijo pra todo mundo.
O nosso casal deu um longo beijo de despedida. Pedro acarinhou o rosto do seu anjo - como gostava de chamá-la - antes que ela partisse.
Alice dirigiu-se ao terminal C, de onde partiria seu ônibus com um destino certo: a casa de seus pais, no interior. Ela mudara-se para a capital, com o intuito de estudar em uma universidade melhor, mas a saudade batia em sua porta todas as manhãs, quando ela acordava. O carinho da mãe, o xodó do irmão e até as discussões com o pai faziam falta ao seu dia-a-dia. Apesar de tudo, ela os amava mais que tudo na vida e decidira estudar para, um dia, poder trazer seus pais para a capital, ao seu lado. Até dos dois cachorros que adotara ela sentia falta: Thor, um poodle albino dos olhos verde e focinho cor-de-rosa, fora adotado de um vizinho que o maltratava, e Pandora, uma poodle branca com alguns fios marrom, fora encontrada na rua, mal-tratada, com o pêlo cortado como se fosse um labirinto.
Ao entrar no ônibus, procurou seu assento perto da janela, de número 27, e jogou a bolsa no chão antes de se sentar. Felizmente seu companheiro de banco ainda não havia chegado. Ligou para Pedro, para despedir-se novamente.
- Te amo, meu lindo!
- Te amo, minha anjinha. Vou dormir com seu pijama, para sentir seu cheirinho toda noite.
Alice riu.
- Você vai ficar lindo com uma camisola cor-de-rosa, haha.
- Hahaha, te mando uma foto.
- Boa noite, Pê.
- Boa noite, amor. Boa viagem.
E desligou. Ligou para sua mãe em seguida, mas ela não atendeu. "Deve estar em reunião", pensou Alice. Enviou uma mensagem de texto pelo celular: "Mãe, tô saindo daqui agora. Devo chegar aí +/- as 5:00h. Bjos e boa noite! Te amo!" e desligou o celular.
O ônibus saiu da rodoviária. Alice apagou as luzes, arrumou o travesseiro e deitou o banco. Seria uma longa viagem até lá. Seu companheiro ainda não havia aparecido. Aproveitou a chance e deitou-se em ambos os bancos, na horizontal. Dormiu.
Acordou na primeira parada, uma hora após a partida. Olhou ao redor, mas ninguém apareceu para ocupar o lugar ao seu lado. Dormiu novamente.
Acordou na segunda parada. Nada ainda. Pensou: "Estranho. Quando comprei a passagem o ônibus estava cheio. Não é possível que eu seja a única sortuda a não ter um 'vizinho'". Voltou a dormir.
Na terceira parada, ninguém ainda. Como demorou um pouco a dormir, pescou a conversa de dois rapazes no banco ao lado.
"Eu adoro chupar preto. Eu acho que é o melhor, você não acha?"
"Eu também adoro. É muito mais gostoso!"
Alice despertou. Ou era muita maldade que estava colocando na conversa alheia ou eles realmente estavam falando daquilo? E como assim preto? "Que preconceito!", pensou Alice.
Deitou-se novamente e ficou escutando. "Conversas sobre sexo sempre são engraçadas".
A dupla continuou:
"É verdade. Tem um gosto diferente né?"
"É sim. É eucalipto. Halls preto é menthol com eucalipto, por isso tem aquele gostinho gostoso".
Alice abafou o riso no travesseiro. Como podia ter pensado tanta besteira?! "Bem que falam que eu sou muito maldosa". Riu mais um pouco da situação, quando seu "vizinho" apareceu. "Era bom demais pra ser verdade", pensou. Mas voltou a dormir, pois demoraria ainda mais 6 horas até chegar em casa. E continuou com destino à sua terra natal.

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